sexta-feira, 17 de junho de 2011

A visão de uma missionária nas trevas densas da Índia


Os tambores soavam a noite inteira, e a escuridão me envolvia, como se fosse um ser vivente. Não podia dormir, mas deitada, com os olhos abertos, parecia que via o seguinte.
Eu estava de pé sobre a grama,à beira de um abismo. Olhei, mas não podia ver o fundo; havia somente nuvens horríveis e profundezas insondáveis. Afastei-me atônita.
Então percebi vultos de pessoas andando, uns após outros, pelo gramado. Estavam marchando para a beira do abismo. Vi uma mulher com uma criança nos braços e outra ao seu lado, segurando-lhe no vestido. Ela estava bem na margem! Vi então que era cega. Levantou o pé para dar um passo mais e caiu, e a criança foi com ela. Oh que grito!
Vi também uma multidão de gente procedentes de todos os lados. Todos eram cegos; todos andavam em direção a margem do precipício. Quase todos gritavam quando se sentiam caindo, e levantavam as mãos, como se quisessem segurar-se em alguma coisa para não cair, enquanto outros passavam e caiam calados.
Então senti grande agonia: porque não havia alguém para previni-los do perigo? Eu não podia fazê-lo. Estava paralisada no lugar e não podia clamar. Apesar de fazer os maiores esforços, só podia cochichar. Depois vi que ao longo da margem estavam algumas sentinelas, porém o espaço entre elas era grande demais, e nesses lugares caiam multidões de pessoas cegas, sem serem prevenidas. A verde grama parecia-me encarnada como o sangue; e o abismo parecia a boca aberta do inferno.  Então vi como se fosse um quadro de paz, um grupo de gente debaixo de uma arvore, com as costas viradas para o abismo; estavam fazendo enfeites de flores. As vezes quando um grito agudo rompia o silêncio, eles se queixavam do barulho.
Vi uma moça parada, sozinha, num lugar, evitando que alguém caísse, mas sua mãe e outros parentes chamaram-na, dizendo que era tempo de suas férias e que não devia deixar o costume de as gozar. A moça sentindo-se cansada e obrigada a fazer uma mudança, retirou-se por um tempo. Mas ninguém foi enviado para guardar o lugar que ela deixara, e as pessoas caiam constantemente, como uma cachoeira de almas. Num certo ponto, uma criança, ao cair, agarrou-se ao numa moita de capim, que estava na margem do abismo. Ficou pendurada, chamando, pedindo socorro, mas ninguém prestava atenção. Por fim o capim arrancou-se pelas raízes e a criançinha caiu, dando um grito, tendo as mãozinhas ainda agarradas no capim.
Então trovejou a voz do Senhor, que disse: Que fizeste?
Os tambores continuavam a tocar pesadamente, e a escuridão ainda tremia ao redor de mim! Ouvia gritos dos que dançavam as danças dos demônios e o triste clamor dos endemoninhados, fora do nosso portão. Isso continuará acontecendo por muitos anos ainda. “Deus faça-nos sentir a nossa dureza”.

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